A pandemia do coronavírus está afetando todos os segmentos da sociedade, entre eles, as organizações sociais que atendem pessoas com alta vulnerabilidade. Além de toda a situação que envolve a saúde, enfrentamos a recessão da economia e, consequentemente, do poder financeiro e aquisitivo das pessoas e das empresas. Com efeito direto na sustentabilidade dessas instituições que atendem diariamente milhares de pessoas.
A Fundação O Pão dos Pobres é um exemplo dessas organizações. Muito reconhecida por sua atuação em Porto Alegre, transformando a vida de milhares de jovens por meio dos cursos profissionalizantes. São 125 anos de atividades ininterruptas atendendo aqueles que mais precisam. O Pão, por sua longa história, já havia enfrentado muitas crises mundiais, tais como, a Pandemia da gripe espanhola em 1918, duas grandes guerras mundiais, a grande depressão econômica de 1929 e a grande enchente de 1941, a maior já registrada em Porto Alegre. Todos esses eventos críticos foram superados sempre com o apoio da sociedade engajada com essa causa em favor das pessoas, especialmente das crianças e jovens.
O investimento em educação e cursos profissionalizantes é primordial e provoca alto impacto social. Empoderam os sujeitos na perspectiva de projetos de vida a médio e longo prazo. Pesquisas apontam que cada R$ 1,00 investido em educação e profissionalização de jovens equivale a uma entrega de R$ 7,50 num futuro muito próximo de relevância social. Esse retorno para a sociedade traz benefícios para todos. Desde o aumento da qualidade de vida até a redução da violência. Assim, é muito mais interessante que se oportunizem possibilidades para os jovens empobrecidos e vulneráveis de nossa cidade, oferecendo caminhos e opções que possam se desdobrar em ações concretas de geração de renda.
Pelos cursos oferecidos pelo Pão dos Pobres, já passaram milhares de jovens aprendizes que hoje têm uma nova perspectiva de vida porque se qualificaram e puderam aproveitar as oportunidades que surgiram em seu caminho. Por ano, são mais de 800 jovens em capacitação técnica e comportamental nos cursos de aprendizagem profissional do Pão. Essa entrega de profissionais qualificados para o mercado se dá graças à parceria com as empresas que se identificam com esse propósito de ressignificação de vidas.
O programa de aprendizagem profissional prevê uma dedicação diária nas atividades teóricas e práticas, além de manter os jovens matriculados e frequentes na escola regular. Nesse momento de isolamento social, nossos jovens seguem com suas tarefas sendo desenvolvidas à distância, dando continuidade à sua qualificação.
O Pão dos Pobres tem orgulho de contribuir com a construção desses projetos de vida. Cerca de 70% dos que participam do programa, são inseridos no mercado de trabalho e geração de renda para suas famílias, alguns, pela própria empresa que abriu suas portas para a aprendizagem. É fundamental que as empresas percebam o programa como investimento em profissionais mais qualificados, como forma de exercer sua responsabilidade social, e não como despesa para cumprimento de uma obrigação legal.
O momento é de grande desafio para todos, e é preciso serenidade. Todo o empenho que as equipes de trabalho do Pão dos Pobres têm dedicado à formação desses aprendizes está em risco. A interrupção desse programa e das parcerias com as empresas implica em grave prejuízo para o público atendido e afetará negativamente toda a sociedade, ao impedir o efeito multiplicador e benéfico de atuação. Se essa interrupção de fato acontecer, o que está por vir é um prejuízo incomensurável na vida desses jovens, que se alongará muito além da pandemia da Covid-19, causando um grande retrocesso na qualificação profissional e na educação.
João Rocha – Gerente da Fundação O Pão dos Pobres